tag:blogger.com,1999:blog-43007238457322506782024-02-07T00:04:13.243-03:00Bicho EsquisitoCriei esse espaço para falar sobre quase tudo, ou seja, para falar sobre quase nada. Além de tratar dessas coisas que me afetam o tempo inteiro, como o peso das formigas, o barulho das lesmas e a força das borboletas.Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.comBlogger873125tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-34053071285026872572019-03-01T10:00:00.000-03:002019-03-01T10:00:16.312-03:00Saiu o livro de crônicas Todas as Águas - <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKEN1hZXSu17UtiJCybidGr1KxZz-TejXNlmsN4Os2RTJZWyvApUPs6YoT5Xix6pzSDGUxKV4fDz_earN5sFNmCzOSu9LIW-hn7gSF_7gkwOyMJFoBLGZ_J8mgeuXOcE2yZVakHSZi-Ug/s1600/%25C3%25A1gua.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="920" data-original-width="1380" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKEN1hZXSu17UtiJCybidGr1KxZz-TejXNlmsN4Os2RTJZWyvApUPs6YoT5Xix6pzSDGUxKV4fDz_earN5sFNmCzOSu9LIW-hn7gSF_7gkwOyMJFoBLGZ_J8mgeuXOcE2yZVakHSZi-Ug/s320/%25C3%25A1gua.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Tenho a honra de participar desse projeto, realizado por Christina Ramalho, Ítalo de Melo Ramalho e<br />
Rafael Senra. São inúmeros escritores convidados que escrevem crônicas todas relacionadas à água.<br />
<br />
O link do livro <a href="file:///C:/Users/91400333415/Downloads/TODAS%20AS%20%C3%81GUAS%20PDF.pdf">"Todas as Àguas" - </a>está disponível!<br />
<br />
<b>Boa leitura e bons mergulhos!</b>Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-43229138449308938842019-01-10T09:57:00.001-03:002019-01-10T09:57:14.558-03:00Desmolha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUmtXnc4hlO4aNeP2rU3XVR_Kr-DMc5XKGMsMPxf4K_z4yPGqyAzhetpDcUbeSiBjON-9OSNTZi_kDBHX-k_gAEwwRGX17CsMKlGDIBIRFgzC7Jil4ppg6KHGjZk5FzBgkFYs6xdaLZzM/s1600/cabelo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1276" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUmtXnc4hlO4aNeP2rU3XVR_Kr-DMc5XKGMsMPxf4K_z4yPGqyAzhetpDcUbeSiBjON-9OSNTZi_kDBHX-k_gAEwwRGX17CsMKlGDIBIRFgzC7Jil4ppg6KHGjZk5FzBgkFYs6xdaLZzM/s320/cabelo.jpg" width="319" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="gE iv gt" style="background-color: white; color: #222222; cursor: auto; font-family: Roboto, RobotoDraft, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12.8px; padding: 20px 0px 0px;">
<table cellpadding="0" class="cf gJ" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border-collapse: collapse; display: block; font-size: 0.875rem; letter-spacing: 0.2px; margin-top: 0px; width: auto;"><tbody style="display: block;">
<tr class="acZ xD" style="display: flex; height: auto;"><td colspan="3" style="margin: 0px;"><span style="color: #222222; font-family: Helvetica; font-size: 12pt;">Aí minha mãe diz: “seu cabelo está tão bonito!”. E eu retruco nunca satisfeita com essa fera que habita minha cabeça. “Não se iluda, quando ele desmolha, é que podemos emitir uma opinião mais precisa”.</span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Roboto, RobotoDraft, Helvetica, Arial, sans-serif;">
<div class="ii gt" id=":1al" style="direction: ltr; font-size: 12.8px; margin: 8px 0px 0px; padding: 0px; position: relative;">
<div class="a3s aXjCH " id=":1ak" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 1.5; overflow: hidden;">
<div dir="auto">
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">.</span></div>
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">.</span></div>
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">E ela primeiro e eu em seguida rimos muito com a palavra que define a rebeldia imprevisível do meu cabelo. Mamãe é assim. Tem dias que não está muito por aqui. Mas quando ela está ela ri de minhas palavras tortas. E eu rio junto. Porque se ela chorar eu também choro. </span></div>
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">.</span></div>
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">.</span></div>
<div style="font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-size: 12pt;">Agora vamos seguir discutindo por mais alguns momentos se corto ou não a rebeldia minha de cada dia, enquanto ela está domada pelos cachos úmidos de nossa harmonia.</span></div>
<div>
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-76773604216240082842019-01-07T00:43:00.001-03:002019-01-09T01:36:00.442-03:00Encosta teu olhar no meu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXeU3ZKBtT-EjPabrTBZIOQPdc0BsfSQuj3Gy1nNbDErkXoQlIHfMG61s72cspDPPqyaDT1rI3yocSP6Ajmo3XhRW4Pey5_BxiofutMlPvBA5jw-55hwukui-NSHVNIy70mglJlCgrxk/s1600/Sandro+Botticelli+-.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="500" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXeU3ZKBtT-EjPabrTBZIOQPdc0BsfSQuj3Gy1nNbDErkXoQlIHfMG61s72cspDPPqyaDT1rI3yocSP6Ajmo3XhRW4Pey5_BxiofutMlPvBA5jw-55hwukui-NSHVNIy70mglJlCgrxk/s320/Sandro+Botticelli+-.jpg" width="266" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Às vezes eu tomo o copo d´água todo de uma vez. Não paro para respirar. E a água faz um barulho quando passa pelo meu esôfago. Não tenho como controlar. </span></b><b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas esses detalhes que compõem minha existência têm bem menos importância pra mim do que os detalhes que eu gosto de observar nos outros. Eu acho que às vezes as pessoas se apresentam pra nós em pedaços. Fragmentos. Traços de memórias. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quando eu penso em uma amiga que não vejo há alguns anos, eu não a vislumbro por completo de imediato. Eu me lembro primeiro que ela tinha um dentinho da frente que nasceu recuado, como se estivesse com um pouco de vergonha de se apresentar no palco. E que quando ela fazia um coque, alguns fios caíam displicentes em sua nuca e era tão intensa a luz que saía dela nesse momento. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Cheiro também é um exercício muito interessante. Gosto de catar cheiros não óbvios naqueles que eu amo. No intervalo entre um dedo e outro, na esquina do nariz com a bochecha, na parte côncava da clavícula e por aí vai, sempre há uma chance de a gente se deparar com um fragmento único de existência de uma pessoa. Um cheiro que só ela vai ter e que devemos sorver com a mesma intensidade que sorvemos um copo d´água tomado de uma vez só. Ou então em pequenos goles, devagar e sentindo o balé do líquido desfilando pela garganta.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bom, eu acho que muita gente que chegou até esse trecho desse meu fragmento de insônia, vai admitir que já se sentiu abraçado por alguém pelo olhar. E é um bom tipo de abraço também, não é? Eu gosto de abraçar pessoas.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O corpo pode ser um depósito de descobertas, vocês não acham? Pode ser um deleite e uma entrega intensa, se não utilizado com pressa ou com objetivos muito específicos. Um corpo precisa ter seus segredos e reservar algumas dúvidas, para que o desejo tenha tempo de ser explorado para além do tecido da pele.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-67825578853802686742018-10-28T18:20:00.002-03:002019-01-06T23:59:18.195-03:00suspirações<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPxxCVH_srVOAGEUuaJcF6Nmw0Vb-FomSbltRHbMHnS0Vh_OM97E6eEs79eTXogu-s80alzJYSSFBT9H4weEpHSdWdY6oFd_NlPeniL4YDUzvDSpsFkAx3McNYX-NlhZs2egV9mPorv9o/s1600/arte+de+Klimt.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="350" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPxxCVH_srVOAGEUuaJcF6Nmw0Vb-FomSbltRHbMHnS0Vh_OM97E6eEs79eTXogu-s80alzJYSSFBT9H4weEpHSdWdY6oFd_NlPeniL4YDUzvDSpsFkAx3McNYX-NlhZs2egV9mPorv9o/s320/arte+de+Klimt.jpg" width="320" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
quem chegar depois de você<br />
vai me lembrar que o amor<br />
precisa ser suave<br />
<br />
ele vai ter<br />
o gosto da poesia<br />
que eu queria saber escrever<br />
<br />
(outros jeitos de usar a boca - rupi kaur)Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-89329866775731301642018-10-20T15:45:00.000-03:002018-10-28T18:22:16.829-03:00Cartas (ridículas) de amor<br />
<br />
Há quase seis anos eu enviava por e-mail umas cartas para uma amiga. Com o seguinte enunciado:<br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">seguem anexadas as cartas (ridículas) de amor, minha querida amiga. </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">guarde-as. são a coisa mais palpável e concreta dessa breve história que eu mesma inventei, para sobreviver aos dias caducos de solidão. </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">beijos, S.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
As reencontrei mexendo em velhos papeis. Pareciam tão novas e ao mesmo tempo tão inéditas. De modo que revisitei todos aquelas palavras que parecem, incrivelmente, vivas e permanentes em mim. Encontrei uma foto do não-destinatário das fotos. Daquele que jamais as recebeu por razões óbvias e, tenho certeza, mesmo se as encontrasse por aí, não se reconheceria nelas.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqQyyXMiUkqJbIzqfSvt_bx1bngQLXODASvfvmtsEawj3O9B94gG5vprtcC1_i6CkXURB-MVopeRF9UeoyJotvoy9BOHGHVS4vFWPsSRYdDLbiSl5hSITkONuvH1dClTE6LNl5UkobNwM/s1600/Eudardo+editado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqQyyXMiUkqJbIzqfSvt_bx1bngQLXODASvfvmtsEawj3O9B94gG5vprtcC1_i6CkXURB-MVopeRF9UeoyJotvoy9BOHGHVS4vFWPsSRYdDLbiSl5hSITkONuvH1dClTE6LNl5UkobNwM/s1600/Eudardo+editado.jpg" /></a></div>
<br />
<span style="color: #943634; font-size: 12pt; text-align: justify;">XX de
outubro de 20XX</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634;">Holla,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vai
passar um tempo em que eu vou te procurar às escuras. E vou tentar enxergar
cada fio de cabelo seu através da luz da solitária lua. Mesmo que isso seja
algo absolutamente vão e não faça nenhum sentido. Vou precisar de um tempo
ainda, Negro, para me ocupar somente de mim e da respiração involuntária que
entra nos meus pulmões, exceto quando eu me deparo lembrando tão intensamente
do calor das tuas mãos que sou capaz de esquecer de respirar. E quando eu
escovar os dentes ou admitir que não sou muito inteligente eu vou lembrar que
você ria de mim porque eu falava meio "achim" e, em sendo ridícula,
eu estava sendo inteira e humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ainda
quero fazer um último pedido, mi amor. Basta uma única vez: que você vá ouvir o
barulho do mar. E quando isso acontecer, feche os olhos e tenha certeza, nem
que seja por apenas sete segundos, de que meu coração pulsou - inédito e
inocente apesar de tudo o que eu vivi antes de te conhecer - muitas vezes no
mesmo compasso que o sussurro do mar. E o mesmo efeito tranquilizador que
aquele barulho é capaz de nos oferecer, era o que eu queria te causar. Com
você, era como se eu quisesse sair da chuva, ou sonhasse que não me assustaria
mais com os relâmpagos e trovões e teríamos um amor sereno e amarelo como os
entardeceres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quero
que saiba também que eu não tenho raiva de você. Nem de mim, nem de nada. Que
não há espaço para esse tipo de sentimento. Somente há um enorme vazio. Esse
vazio que você sempre se empenhou em cavar entre nós. O conveniente vazio que
engole toda uma galáxia de possibilidades. Que bom que eu sempre me despedia de
você todas as vezes. Não que isso me cause algum tipo de alívio agora. Mas,
esse gesto sempre me apontou - involuntariamente - para o caminho que eu
deveria trilhar exatamente contrário aos trilhos que me levariam para perto, a
ponto de sentir teu cheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Teu
cheiro. Teu abraço. Teu gozo. Ainda estão todos aqui, na escuridão do meu
quarto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">XX de
outubro de 20XX<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">acho
que foi só por um segundo que eu fiz planos para a vida inteira com você. um
segundo que valia por todos os anos que eu vivi até encontrar o teu olhar, a
ponta dos teus dedos e o cheiro do seu cabelo. eu te amei quando você escovou
os dentes e disse que queria comer macarrão. eu te amei quando percebi que
dirigia a toda velocidade só para poder encurtar os segundos que eu ía te ver e
poder subir em suas costas e coçar embaixo do teu maxilar e sentir os pelinhos
crescendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">e
você se engana quando pensa que eu não percebo que você anda pelo meu jardim
sem ter muito cuidado se vai esmagar minhas begônias ou arrancar antes do tempo
minhas tulipas. enquanto eu, eu peço licença para entrar no teu jardim e, no
máximo, eu observo as cores tímidas das tuas rosas, sem ousar toca-las, a menos
que você diga que isso é possível. e por que estamos quase o tempo todo falando
de você e não de mim? talvez porque mesmo quando você está olhando para meu
rosto, você está pensando na sua face, na expressão dos seus olhos e como sua
boca mexe e aquele jeito que você tem, quase imperceptível, de botar a língua entre
os dentes. você está sempre atento, negro. mas não é a mim e o que realmente me
pertence nesses segundos que estamos juntos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">ontem
eu tive vontade de chorar, mas não chorei. calcei meus sapatos e segui meu
caminho. ontem, enquanto eu sentia o vento bater no meu rosto e o suor escorrer
pela pele, eu soube que não é você quem me faz chorar. é o despertencimento, ou
seja, o que não há de você em mim, o que não me deixa livre completamente, o
que se torna vício e é nocivo para o ar que entra em meus pulmões. ontem já
acabou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">hoje
eu acordei depois de sonhar que eu te via deixando na parada de ônibus uma
menina baixinha e bem bonitinha. ela parecia tão inocente, negro. você viu que
eu vi. e acho até que ficamos envergonhados um com o outro. não pelo fato de que
você estava ali com uma menina bonitinha e baixinha, deixando-a na parada. mas,
porque ela era inocente. e nós não. porque somos escuros e porque precisamos da
inocência de outras pessoas para acender as nossas luzes, às vezes, e mesmo que
seja acidentalmente. mas era só um sonho e eu quase não pude sentir o teu
cheiro. quando você enfiou a menina dentro de um ônibus e se despediu
rapidamente dela, depois partiu revestido de uma vergonha que se assentava no
meu vazio e solidão. eu não parava de te olhar. eu quase sorria ao te olhar,
negro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">mas,
daí eu peguei o próximo ônibus que passou e ao invés de pagar, o motorista
pedia alguma identificação que pudesse comprovar o que eu era. isso mesmo, não
era quem eu era. era o que eu era. e, mesmo achando tudo aquilo estapafúrdio
mesmo para ser dentro de um sonho, já que tudo que tinha ocorrido até ali
naquele momento fazia muito sentido para mim, eu tentei mostrar para ele
algumas carteiras de identificação. algumas delas eram como um caleidoscópio da
minha vida, onde eu podia ver feiras livres, a cachorrinha marrom da minha
adolescência, uma bolsa verde abacate que eu nunca comprei e um vestido amarelo
da minha avó do qual eu nunca me desvencilhei da memória. e, de repente, estava
eu dirigindo loucamente para bem longe da última visão que eu tive sua. e,
embora eu soubesse que não era real, eu sentia como se seu olhar estivesse
cravado e mim. como se você pudesse ver e sentir toda a dor que você me
causara, ignorando-me mesmo quando olha diretamente para meu rosto e só
consegue ver a você próprio. fora como se em apenas um segundo, eu pudesse
perceber que não te amava mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">XX de setembro de 20XX<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Negro,
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Às
vezes a gente sabe. Às vezes, o saber nasce com a gente. Só passamos um
período, um pequeno intervalo, tentando ignorar o que já é, o que sempre foi e
o que será. Subimos em um cavalo selvagem e desatamos a andar no deserto,
tentando disfarçar a fome e, sobretudo a sede; até que aos poucos, sucumbimos
ao calor e à sofreguião da pele, cedendo à ausência de água; deitamos a cabeça
na areia, fechamos os olhos e ouvimos as batidas do próprio coração.
Desesperado. Gritando. Pulsando. Sucumbindo. Miserável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então,
num lampejo simples e certeiro de sobrevivência, abrimos os olhos para avistar
toda a sabedoria que escondíamos de nós mesmos. Porque às vezes, é necessário
atravessar o deserto e despir-se do conhecimento prévio. Apagamos as luzes,
abaixamos as bandeiras, ignoramos todos os conselhos paternos, esquecemos do
nome da mãe e da saudade,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>jogamos fora
as flores de outrora. Precisamos ser somente nós e o sol. Nós e a areia. Nós e
o nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Negro,
as nuvens estão passando e eu vejo melhor o clarão do céu. Com o passar das
horas, eu vejo que a luta está perto do fim e, muito em breve, eu vou desistir
de lutar. Eu vou acender uma vela para São José e não vou querer ouvir sermões.
Vou assentar meu coração em qualquer sentimento, quiçá em um sentimento comum e
ordinário e não vou mais querer sentir nenhum poder, nenhum tipo de torpor
desses que brotam dos sentimentos elevados do amor, tão poderosos que são
capazes de arrancar cabeças inteiras e deixar corpos soltos e à mercê da chuva,
dos carros e do asfalto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Você
se enganou quando achou que eu traria algum tipo de resposta Negro. Eu não
tenho respostas, eu não tenho certezas. Para ser sincera eu nem tenho certeza
de mim mesma. Eu sou um amontoado de amor que se abisma desde meus primeiros
passos. Eu sou um punhado de contentamento, de deslumbre, de dúvida, dor e
fingimento, Negro. Eu sou a farsa mais verdadeira que você poderia ter
conhecido. No meu grito, o que há de mais grave e profundo é meu silêncio.
Deitei todas as minhas esperanças rio abaixo desde meus 21 anos. De lá para cá,
sou toda deserto e um pouco de ilusão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">17 de qualquer mês,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12pt;">Estou
de novo com aqueles pensamentos. Sinto vontades de colocar coisas para dentro
da minha vagina, como se ela fosse um enorme baú. Uma garagem que receberia
instrumentos. Agora mesmo, queria colocar o anel de ametista que trago no dedo.
Já pensei, em outras épocas, em colocar maços de cigarro; livros inteiros; meus
dois diários. Só não ouso colocar coisas abstratas dentro dela. Coisas do tipo
tesão, desejo, medo, ardor. Essas coisas não têm para quê guardar. Elas têm
vida curta. Não precisam de baú.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">16 dias antes de morrer pela quinta vez<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Oi
Negro,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A lua
dá a sua volta. E eu encaro seu lado escuro novamente. É sempre assim: você
vem, eu brilho de amor e quando você vai, com o passar das horas e dos dias, eu
começo a brilhar novamente de saudades. Não tenho descanso, Negro. Meu coração
não me dá descanso. Ele me exige risos e lágrimas na mesma intensidade com que
exige que eu siga respirando esse ar que tem horas que não é o suficiente,
quiçá o bastante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu me
olho e me reconheço ainda mais. Como se você me trouxesse um espelho com mil
luzes, no qual eu não pudesse escapar. Mil canções e passos e murmúrios me
ressoam na cabeça Negro. Eu estou viva. E viva eu morro um pouquinho, só para
poder reviver novamente a esperança de colocar-te de novo em meus braços e te
enlaçar com minhas pernas, enquanto meu coração tamborila a emoção de te ter,
aprisionado também, Negro. Aprisionado em um laço encarnado de fita, um laço
frouxo que você estreita cada vez mais que se aproxima de mim, meu amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">----------------------------------------<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">9 de julho de 20XX<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu me
pergunto coisas que só têm eco nos dias; nos vazios que você deixa todas as
vezes em que se vai e sequer olha para trás. Eu pergunto coisas que ficam
presas na garganta e se intimidam em sair para se encontrar com sua história. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
lembro dos instantes que passaram e espero com sofrimento os que ainda virão;
se ainda teremos uma história e que história é essa. Eu não quero escrever essa
história sozinha. Não quero ser responsável por esse texto, sozinha, negro. E
eu não quero fingir que você não faz parte do meu mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu sei
que não posso falar ainda do nosso amor, porque cada um sabe o que tudo isso
ainda não é. Mas sabemos dos perigos que corremos quando não nos deixamos
atingir diretamente pelas obviedades contidas nos beijos, nos abraços, nas
conversas, nos cheiros, nos olhares, nos sorrisos, nos espelhos quebrados, nas
brigas, nos desejos e nas palavras encurtadas pela falta e pela ausência que
você me faz. Para de fingir que isso não importa. Se não sou parte do seu
mundo, me liberta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
canto pelos cantos da casa. Eu cato pequenas recordações de quem eu sou, para
não esquecer de mim antes de ti. Tem vezes que eu brilho de saudade. Noutras,
eu sonho com uma outra vida, uma que eu nunca tive. Todos os movimentos me
levam para uma ciranda, negro. Uma roda onde eu fico no centro, vendo você
girar, ora perto, ora longe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O meu
amor que eu arrasto já foi tão forte e tão intenso, que eu desaprendi a ser
menos. Eu não sei comedir a ração que alimenta meus poros, meu corpo, meu gozo.
Eu estendo os meus braços e não alcanço o fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">------------------------------------<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abril de 20XX<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dois
dias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
tenho vontades depois de você. Antes eu estava só e às vezes até feliz, noutras
só deixava o tempo passar. Trabalhava, conversava com minha mãe, alimentava
meus gatos, comprava livros em sites virtuais, ouvia música, aguava as plantas
e tecia um comentário aqui acolá sobre qualquer coisa. A comida tinha sabor de
comida e o ar entrava pelos pulmões quase sempre sem pedir licença. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Agora,
quando eu estou só é porque você não está comigo. E eu tenho vontades depois de
você entrar na minha vida e desejos também. Coisas que só se resolvem com você
e para você. Desejos que só se concretizam com você dentro de mim e eu te
engolindo, te molhando e me cedendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Antes
de você, a vida era boa. Agora, eu quero mais. Eu quero me espalhar pelo vento,
quero nadar até chegar à África, quero me atirar profundo no redemoinho que
move a vida e quero dançar uma ciranda. E quero que você me tire para dançar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E,
mesmo quando eu não entender e não gostar de nada que você fala, ou não quiser
entender, ou não concordar, mesmo assim, eu sentirei que você está em algum
canto dessa cidade. E que esse é um desenho de amor que a gente está começando
a rabiscar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">------------------------------------<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12pt;">De um dia qualquer,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12pt;">Hola
Negro,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Faz
tempo que não te escrevo não? Mas necessito escrever-te de vez em quando para
que fiques vivo nas letras, tanto quanto tens estado vivo dentro da minha
memória. Ontem, quando tu me beijastes no ventre, perto da tatuagem desenhada
na minha barriga, eu senti como se estivesse encontrando um sentido novo para
minha pele, naquele lugar. Como se toda a existência do meu ventre tivesse sido
em função e à espera daquele momento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Negro,
como é possível viver sem teus beijos? Eu me pergunto agora. E, muito embora
exista uma explicação razoável e, comparativamente, equidistante a meus anseios
de me agarrar aos teus cabelos e cheirá-los até sentir que estou partindo as
narinas em fragmentos que me deixam zonza e feliz, eu sei que isso é só um momento
em minha vida. Sei que pode ser um momento passageiro, ou pode ser a ponta de
uma lança que nos afetará para todo o sempre. Não se assuste comigo, Negro. Não
se assuste menos do que estou assustada contigo e com o impacto que o encaixe
dos nossos corpos faz dentro de mim.</span><span style="color: #943634; font-size: 12pt;">Te
quero. Por princípio, é só.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">13 de março de 20XX<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hola,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vai
dar tudo certo. Não há o que temer da minha parte, nem da sua. Somos boas
pessoas. Temos defeitos, quem não?, mas no fundo temos boas intenções e isso
prevalecerá. Ainda não sei de nossas conjunções astrais mas sei que as estrelas
brilham no céu todas as noites e nos espiam aqui embaixo da terra, como se o
céu estivesse com furos. Olhar para as estrelas, Negro, é como não estar
sozinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
acredito que vai dar tudo certo. Já nos encontramos e isso não tem mais volta.
Oxalá o frio e o calor se encontrem e façam suas combinações. Eu prometo que vou
esperar que possamos nos conhecer e nos reconhecer como pessoas boas e capazes
de amar, como eu sempre suspeitei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
sei que vai dar tudo certo e que a confusão nada mais é do que uma simples
alegoria que passa numa terça de carnaval e, depois, o céu ficará azul e
límpido, como merecemos. Nossos sentimentos nascerão simples e fluirão para o
carinho, o respeito e o amor. Negro, eu sinto. Eu espero. Eu tenho paciência.
Eu acredito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-----------------
... ----------------<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A última carta</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hola
Negro,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
sei que você ainda está aí. Eu sinto isso. Muito embora queira parecer uma
nuvem, você é montanha. Não posso dizer que não chorei ou que não estou triste
com seu silêncio e sua distância. Tampouco diria que nossa fervura depende
apenas dos meus eflúvios e calores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo
porque sei que dessa forma chego até ti. E chego, primordialmente, a mim
também. Continuo sem medo, Negro. Continuo a superar minhas dúvidas e angústias
e a esperar que tenhas a mesma vontade. Talvez até maior que esse desejo que
sentes pela brancura das ilusões. Sei que não somos tão diferentes. Sei que não
tens receio de me ver refletida no espelho como uma irmã, uma companheira, uma
mulher, tua mulher, Negro. Tens medo, provavelmente, do que tornaria isso uma
verdade maior que tuas fugas e tuas farsas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
não vou me esconder Negro. Mas também não vou correr por entre os espinhos que
você espalha pelo caminho, só para afastar o amor e a liberdade de amar. Eu não
sou cativa de nenhum tipo de desejo avassalador ou irreversível, Negro. Eu sou
dona dos meus sonhos, mas não das verdades aladas que sobrevoam nossas cabeças.
Mas eu sei que quero compartir contigo meus segredos e prometo que não vou
fugir quando começar a ouvir os teus. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #943634; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meus
gatos dormem e eu espero. Minha taça transborda e eu espero. Meu coração
tremula dentro do peito e eu espero. Mesmo quando meus olhos fecham, eu sonho e
espero. Meus dias são mais dias enquanto espero. Você é a paz dentro do meu
silêncio, Negro. Por isso espero.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-84268550442429571372018-10-16T22:39:00.000-03:002019-01-07T00:00:11.463-03:00A marcha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpq4PcVQ37QzvfNBhdDOeS2sL3PvKPAjNCb0FQYqtmAJvYCsD8xh_7ttQOyKPNgEgvyLijhaACoZMmGppm2TIsDjXenbzYJfAGHXlyMEz6ayIJNw4izjiSudQkJRKDPnLA5I9wg0UFhSA/s1600/chuva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="394" data-original-width="700" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpq4PcVQ37QzvfNBhdDOeS2sL3PvKPAjNCb0FQYqtmAJvYCsD8xh_7ttQOyKPNgEgvyLijhaACoZMmGppm2TIsDjXenbzYJfAGHXlyMEz6ayIJNw4izjiSudQkJRKDPnLA5I9wg0UFhSA/s320/chuva.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Displicentes com o cotidiano<br />
Nem sempre vê-se que os cupins<br />
Estão corroendo as pernas da mesa de mármore<br />
<br />
É que alguns tipos de cupins corroem as pernas das mesas de mármore<br />
Até certo ponto em que o banquete cai por terra<br />
Lavando a brancura do chão com um amontoado de gorduras, cacos de vidro, gritos e solidão.<br />
<br />
Displicentes, nem sempre percebemos<br />
A marcha dos cupins<br />
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<br />Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-87511357723523077662018-10-14T18:33:00.003-03:002018-10-16T22:39:59.998-03:00Dois perdidos numa noite quente<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAM5ASwV7WxridIAVOvvsP-YTckMABuQmn8ub5Ywle0qZQ9SYJVcKN6T5IUrXfCeeQFX8gvWCZ4ZZrFO5tagPbJ2BpdxU4n0Y4jGfDV-rO-9r8Mw3kAhLzwRUAp_WrRdb04iKHWHyjplo/s1600/cafun%25C3%25A9.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="646" data-original-width="750" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAM5ASwV7WxridIAVOvvsP-YTckMABuQmn8ub5Ywle0qZQ9SYJVcKN6T5IUrXfCeeQFX8gvWCZ4ZZrFO5tagPbJ2BpdxU4n0Y4jGfDV-rO-9r8Mw3kAhLzwRUAp_WrRdb04iKHWHyjplo/s320/cafun%25C3%25A9.png" width="320" /></a></div>
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- Desculpe por aquela noite. Foi massa, mas eu nunca te liguei. Eu fui muito sacana. Ele disse subitamente, depois de tirar a língua quente de dentro de sua boca. O pedido de desculpas chegava com uns 25 anos de atraso.<br />
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- Deixa isso pra lá. Estou ocupada demais pensando no meu presente, para me importar com o passado. Eu fiquei puta sim, naquele tempo. Mas agora isso não tem mais importância alguma. Disse, como quem quisesse dizer, para de falar e me beija, porque está bom. E porque te beijando eu me distraio de mim mesma.<br />
<br />
Mas ele não fazia muito o tipo de simplesmente obedecer. Tinha uma espécie de selvageria mansa nele. Daquelas em que não se sabe ao certo qual será o próximo passo. A dela era mais incerta ainda, porque o que parecia selvagem naquele momento era tão movediço que seria capaz de deixar qualquer um paralisado diante de um gesto inusitado. Isadora não sabia até onde seu cavalo sem cela poderia correr se ela lhe desse um pequeno peteleco no meio das orelhas. Tirar a roupa e chupar o pau dele seria uma opção. Vestir o casaco e sair do pequeno quitinete, também.<br />
<br />
Ao invés de beijá-la um pouco mais ele lhe ofereceu mais uma taça de vinho. Vinho doce. Insuportavelmente doce. Bom para entorpecer o juízo e deixar com dor de cabeça. Duas coisas que combinavam bem com aquele dia para Isa. Era assim que ele a chamava desde os tempos de faculdade. Isa.<br />
<br />
- O gato comeu a língua de Isa? Por que Isa não fala? Ele brincou depois que ela tomou uns tres goles de vinho, pausadamente, sem dar uma palavra. Até respirar parecia insano. Inútil.<br />
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- O "gato" não comeu minha língua. Ele chupou minha língua há pouco tempo. Ela retrucou e ele riu.<br />
<br />
Tinha um riso de menino dentro dele. Um riso em que as bochechas ficavam vermelhas e os olhos miúdos brilhavam intensamente. "<i>No fundo é uma eterna criança/ que não soube amadurecer</i>". Tem uma canção do Aldir Blanc, que a Nana Caymmi canta que tem tudo a ver com ele. Aliás, tem tudo a ver com a grande maioria dos homens. Ela pensava. Mas dizer para um homem que ele não sabe amadurecer é quase uma ofensa. Como se não fosse uma verdade incontestável.<br />
<br />
- Quer comer? Ele perguntou.<br />
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Ela não queria. Mas disse que sim por educação e porque tinha fome de algo que não tinha nome naquele momento e que talvez a comida a distraísse do enorme buraco no estômago. Um buraco negro. Engolindo todo o resto. Os dias, as horas, o sol. O big bang não fazia o menor sentido. Nem a teoria das ondas do Einstein.<br />
<br />
Ele buscou na geladeira quase vazia um kiwi e entregou-a com uma colher. Ela achou aquilo chique.<br />
Mas não tinha muita certeza de como se comia um kiwi com colher. Beto vendo o embaraço pegou a colher calmamente e começou a pegar a carne da fruta e dar-lhe na boca. Aquilo era tão doce. A coisa mais doce que ela havia experimentado nos últimos 500 anos, talvez. Não a carne cítrica do kiwi. Os As mãos dele envolvendo a carne verde e entregando em seus lábios. Como era difícil aceitar que alguém pudesse ter uma atitude de cuidado com ela! Sempre tão acostumada a cuidar, se preocupar, limpar, arrumar, trabalhar, cozinhar, colocar a roupa suja no cesto. Essas coisas inúteis que se faz no dia-a-dia e que de uma hora para a outra são tão inúteis que engolem todo o resto das coisas que poderiam trazer algum sentido para a vida. Isa estava perdida. Beto era perdido há muitos anos. Os dois eram o par perfeito na noite mais incerta e improvável de suas vidas.<br />
<br />
- Você tá muito séria. "Fon-fon"! E disse isso apertando-lhe um dos seios como se fosse uma buzina. Era a segunda coisa doce que ele fazia em menos de cinco minutos. Era preciso manter aquela doçura, para dar uma trégua ao amargor dos dias.<br />
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<br />Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-20038872193718473862018-09-26T09:38:00.005-03:002018-09-26T09:38:59.152-03:00Fragmentos do Facebook 1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeU4N8KDgzd09W9sssj1Oc2gwPv2GuW8BFhHHghonIincniyNOtBzAgEj8mBTXPIZvd1X6rErewb5HypkwlXt85r0EOKrzyCKJ_s2DD8kesWuJV__Kg9rOX_X2vKO3zLTKUplDIo4bPMw/s1600/inteira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="666" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeU4N8KDgzd09W9sssj1Oc2gwPv2GuW8BFhHHghonIincniyNOtBzAgEj8mBTXPIZvd1X6rErewb5HypkwlXt85r0EOKrzyCKJ_s2DD8kesWuJV__Kg9rOX_X2vKO3zLTKUplDIo4bPMw/s400/inteira.jpg" width="400" /></a></div>
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<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">“Eu gosto de ser inteira. De andar na roda gigante do riso ao choro e de me permitir sentir frio na barriga. Eu gosto de caminhar pelo meio fio. De sentir e ouvir as folhas secas se quebrando nas minhas pisadas. Eu gosto de andar de mãos dadas com o namorado e sorrir para pessoas estranhas na rua. Eu sou uma pessoa que anda na rua!</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas, é preciso tomar cuidado, dizem. Tem pessoas que não merecem nossa inteireza. É preciso comedir, medir, fazer cara de paisagem. Não mostrar a lua, nem cheia nem minguante, do que estamos vivendo ou pensando. Pensar, inclusive, pode ser perigoso, porque você passa a existir e contrariar o desejo daqueles que querem sua permanência invisível. Ou o que é pior que ser invisível, ser submetido. O submetido é assoalho da opressão. E eu odeio opressão. Não é algo que consiga suportar.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu gosto das minhas inteirices. Sem ela, me despedaço e não me acho muito bem. E é por isso, por gostar de ser inteira, que eu preciso de vez em quando, descartar, entregar, abandonar o que me excede. O que não vem de dentro, o que se torna raiz morta, galho frágil, sombra cega.”</span></b></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-68132392243055168072018-09-25T08:41:00.000-03:002018-09-26T09:42:03.986-03:00Fragmentos do Facebook 2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg959MIp1k-YMFX_ZtU49VVXkqNT4MjSklezLU0pKFZ9vQYdYt-AsMkJoHucvT1KZIY2GLIV83dPkwzD71et6d8BURW4AEn8lTtQYGWEowjTPfrNyAtY1S8TbIjpRRI3UktS-34scUwlV4/s1600/facebook+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="467" data-original-width="591" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg959MIp1k-YMFX_ZtU49VVXkqNT4MjSklezLU0pKFZ9vQYdYt-AsMkJoHucvT1KZIY2GLIV83dPkwzD71et6d8BURW4AEn8lTtQYGWEowjTPfrNyAtY1S8TbIjpRRI3UktS-34scUwlV4/s320/facebook+2.jpg" width="320" /></a></div>
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<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O sinal está fechado (?) pra nós que somos de meia idade e não entendemos como é que de repente o termo “produção de conteúdo” parece ser uma coisa nova e somente feita por uma “xuventude” alienada e que acha que o mundo começou em 1996?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Oxi! Pois eu “produzo conteúdos” desde que sujei a minha fralda pela primeira vez!</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Produzo, penso, questiono, e me humano cada dia, todo dia, porque as telas do computador e do celular não me ultrapassam em nada!</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Você pode até sonhar que aquela “start-up” vai te fazer o novo ou a nova Zuckerberg, mas deixa eu te falar uma coisa: a tecnologia não te ensina a lidar com as frustrações, e os muitos nãos que te jogarão na cara, nem te prepara para enfrentar a recusa, tampouco te protege das armadilhas construídas pela concorrência desleal e muitas vezes desumana, das próprias máquinas.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Você aí paquerando pela internet, jogando mó charme e parecendo a pessoa mais interessante do mundo, vai sentir o cheiro do sovaco dela ou dele pra saber se tem ou não tem liga! Vai olhar no olho e ver se tem paisagem naquela expressão da Foto ou se é apenas um descanso de tela falso das ilhas canárias.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Antes de “produzir conteúdo”, aprende a andar de ônibus, a ensinar onde fica uma rua para um estranho, vai ler um livro inteiro e dar um banho na tua avó que tá doente e produzindo conteúdo nas calças. Vai ser gente! Vai errar tentando e não cagando empáfia e termos em inglês, como se o mundo fosse uma sucursal da Wikipedia!</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Preguiça que eu tenho dessa geração alienada e egoísta, visse?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-76460984452460608082018-09-24T09:44:00.000-03:002018-09-26T09:44:41.025-03:00Fragmentos do Facebook 3<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgI6y2KbMm6BFpv3SGBF_1BaCEo-EiOhPGRLftskgPddNoTI1eVggnbrSWckERMSEtjmcOsYKZZtV_DQwBUKAJf0WkuKEgJhyfNClBV0CsR3XqxvDTbcYeGgoi_70lOarP5LDv-ykUct4/s1600/cheiro+de.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="720" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgI6y2KbMm6BFpv3SGBF_1BaCEo-EiOhPGRLftskgPddNoTI1eVggnbrSWckERMSEtjmcOsYKZZtV_DQwBUKAJf0WkuKEgJhyfNClBV0CsR3XqxvDTbcYeGgoi_70lOarP5LDv-ykUct4/s400/cheiro+de.jpg" width="400" /></a></div>
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<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Senti um cheiro de manteiga derretida. Sabe aquele cheiro que tem o dedo do pipoqueiro? Quando ele diz: "quer que ponha sal e manteiga"? Cheiro da minha infância, do circo e do parque de diversões; da roda gigante perigosa porque ouviram dizer que um menino caiu lá do alto, porque as ferragens estavam enferrujadas. Cheiro de infância é uma coisa que segue a vida inteira com a gente, né? Minha avó cheirava a talco. A rede que ela usava para me embalar tinha cheiro de algodão cru. Algodão cru é um cheiro original também. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Já senti o cheiro de uma grande dor. Era uma enorme craibeira que tinha por trás do quintal da minha casa e que a prefeitura achou que devia cortar. Ela estava lá há mais anos que os 15 anos brega e rosa da filha do prefeito. Ela estava lá, impávida e colossal em sua firmeza de craibeira. Acho que nem sonhara com aquela serra cortando-lhe as carnes escamosas. Só lembro que durante dias, mesmo após o caminhão ter levado seu corpo todo esquartejado, era possível sentir o cheiro verdejante de sua dor.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Eu já senti outros cheiros de outras grandes dores. Mas essas, se reservam às janelas fechadas de minha memória. Há dores em que são mais fáceis de lidar quando ruminadas em silêncio. Na escuridão dos afetos.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O cheiro da malha que eu teço para fazer meu crochê. É um cheiro que diz, vem me molda em outro algo e me transforma em outra coisa que eu nem imaginara ser capaz de ser. A tessitura tem dessas surpresas. E eu gosto também de fabular as coisas. De pensar sobre o que pensam as coisas. Aquelas que estão para além de mim e que me encantam com seus cheiros.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>*</b></span></div>
*<br />
<div>
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-74338229489341486282018-02-08T18:05:00.003-03:002019-01-07T00:35:42.234-03:00Um poema para falar sobre o eu<span style="color: red; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04;"><br /></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Porque eu me emociono com uma música no rádio,</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>e eu gosto de abrir velhos livros e sentir o cheiro das letras</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Porque eu tenho gatos e espirro com seus pelos espalhados pela casa e, no entanto, meus espirros não teriam graça alguma se não fossem meus gatos</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Porque eu tenho desejo e eu sei que meu desejo não é prisão para o desejo de ninguém, o que inclui minha impotência em influenciar o desejo da rosa vermelha que botou três rosas num único galho dia desses no meu jardim. Deixando a roseira amarela, amarela de inveja.</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Porque eu guardo pedaços de mulheres em mim. Os dedos de tia Leda, os cílios de Coca, que às vezes mais se parece com uma irmã, o joanete da minha mãe, as orelhas pequenas de vovó. E, no entanto, e ao mesmo tempo, sou tão diferente delas. Eu e minhas sardas. Eu e meus cabelos crespos. Eu e o espelho que revela a imagem do meu pai.</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Porque eu, de repente, e muito que quase nunca, decido escrever um poema que tenha excessivamente a palavra "eu". Um eu que carrega o anonimato das sílabas inaudíveis. Aquelas que reverberam coisas inaudíveis que preferem ficar represadas na garganta ou na fonte salgada dos olhos. </b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Eu que consigo chorar de vez em quando com um programa de arte na televisão.</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Eu que choro.</b></span><br />
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #783f04; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>Eu que ainda.</b></span>Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-63767101406005500382018-01-03T08:00:00.000-03:002018-01-02T16:50:11.510-03:00AFORISMO I<br />
<b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></b>
<b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quanto mais difícil o deslocamento de si mesmo, quanto mais parecer impossível tornar-se banido de dentro das próprias circunstâncias, mais próximo da verdadeira essência de ser inteiro nesse mundo despedaçado.</span></b>Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-14561262019651971752018-01-02T16:39:00.000-03:002018-01-02T16:39:47.354-03:00a matéria que circunda a existência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk55NdPD10vbjuxIuhdRFIx83Z5cPB2CXESNEusgYCcXusfgqo4hbpED_6_v_E-pQmbXQWDfIY8Yw20xyrXbjk4m6Zad6C4cPM7U2DQtvNXvx2cLGKk-0I0nAfQsWUVGHcgIxq2qtKRRk/s1600/avatar2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk55NdPD10vbjuxIuhdRFIx83Z5cPB2CXESNEusgYCcXusfgqo4hbpED_6_v_E-pQmbXQWDfIY8Yw20xyrXbjk4m6Zad6C4cPM7U2DQtvNXvx2cLGKk-0I0nAfQsWUVGHcgIxq2qtKRRk/s320/avatar2.png" width="320" /></a></div>
<br />
houve um tempo em que eu passava mais vezes por aqui. fazia longas paradas, me entregava a devaneios, dividia-os com meus leitores. houve um tempo em que eu tinha mais certezas. diferente de agora. dúvidas circundam minha vida. será que o Brasil tem jeito? será que um dia em volto a ter um trabalho e um salário digno? onde foi que eu errei (tanto)?<br />
<br />
deparei-me pensando sobre os textos que deixei por aqui. os voos literários que traziam consigo a bagagem de uma jovem escritora que sonha em ter livros publicados. escrever não tem nada de poético. os dedos não doem ao bater nas teclas, mas a cabeça lateja, os pensamentos se fragmentam, a entrega à tarefa não é fácil, o abismo do silêncio é muito mais atraente num mundo em que tanto se fala, pouco se aproveita.<br />
<br />
a verdade é que isso tudo o que disse acima pode ser uma grande desculpa, ou uma pequena justificativa para minha falta de criatividade. ou, talvez, uma criatividade às avessas. não escrevo nem alimento os leitores porque as palavras me consomem vorazmente por dentro. sufocam-me. preenchem tanto meus pensamentos que mal posso digeri-las e, sendo assim, me calo. os dedos ficam sem forças para o balé das teclas. a vida sem o preto e branco da tela e das letras.<br />
<br />
desenho. faço crochê. vejo filmes na netiflix. leio livros de psicanálise. ganhei de presente dia desses o livro "falar de amor à beira do abismo" do Boris Cyrulnik. ainda não comecei a ler. mas, pensando bem, é possível que a minha grande tentativa diária - nesse meu silêncio voluntário - seja a de tentar falar de amor à beira do abismo. dessa sensação constante de queda livre e que vez por outra, agarro-me a algum galho e tento não sucumbir tão facilmente. ei, e isso não tem nada a ver com medo de viver ou vontade de morrer, você aí que me lê e pensa que estou falando de coisas que se encaixam facilmente em tristeza e depressão. os diagnósticos são ótimos para limitar as pessoas, para dar um contorno medíocre e paralisante às emoções e aos diversos sentidos que uma mesma coisa possa ter.<br />
<br />
falar de amor à beira do abismo, a meu ver, é colocar as palavras no varal de possibilidades de sentir e viver o mundo. uma pessoa que toma uma taça de vinho e ouve Ella no Deezer pode estar muito mais viva e pulsante que um folião do carnatal. menos anestesiada, provavelmente sim.<br />
<br />
eu tenho pena, muita pena dos anestesiados. eles não sabem como é rico sentir.<br />
<br />
tenho deixado o passado para trás. alguns amigos ficaram por lá. ou pelo menos suas manias nefastas de exigirem inteiros de mim, quando mal conseguiam oferecer um naco de pão e uma xícara de chá de escuta e compreensão. estou cheia de amigos de aluguel. não me interesso por inquilinos, tampouco por donatários de meu tempo e minha atenção. a vida é uma troca. se a balança desequilibrar é melhor pedir um uber e voltar para casa antes das onze.<br />
<br />
não é fácil viver se equilibrando na corda bamba do presente. corpo e mente dentro de uma única perspectiva: a de se manter de pé, na fina linha de aço que é a vida e o acaso. enquanto que, ao mesmo tempo, essa linha de aço é frágil e insuficiente para sustentar seus membros, tronco, cabeça. a menos que você esteja em completa sintonia com o balançar, o ir e vir das correntes de ar. um pé em contato com o frio aço, o outro em acordo com o tempo e o farfalhar dos segundos fazendo cócegas nos pelos e poros. e depois, troca de pé, e assim segue a caminhada que não é uma grande caminhada. é tão somente o equilíbrio entre a matéria que circunda sua sensação de existência e o tempo.<br />
<br />
ontem eu cantei velhas canções que ainda estão bem frescas na minha mente. "tenho andado distraído, impaciente e indeciso. e ainda estou confuso só que agora é diferente. estou tranquilo e tão contente". não faz muito sentido. mas é carregado de significados para mim.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-42769591349411244652017-07-02T20:01:00.002-03:002017-07-02T20:01:49.888-03:00Mais trabalho, menos mimimi<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Ca1POTwTbq-uGVwhQQVGWBlcrqGm1k_-oUR5CpP7EdCMfVoHHC7Dd9G7sMU8bxZAFxwTWrHlDAKOvrAlKSvMRqM1kyVVsFgotfNLv88tsMqga2mU_n0WQClsRdCl9l-HKkry6U-vv6M/s1600/blogueira+de+moda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1200" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Ca1POTwTbq-uGVwhQQVGWBlcrqGm1k_-oUR5CpP7EdCMfVoHHC7Dd9G7sMU8bxZAFxwTWrHlDAKOvrAlKSvMRqM1kyVVsFgotfNLv88tsMqga2mU_n0WQClsRdCl9l-HKkry6U-vv6M/s400/blogueira+de+moda.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Quando eu olho para alguém que me diz que é "produtor
de conteúdo" para internet eu penso logo em axiomas tipo, o céu é azul;
para morrer, basta estar vivo, etc. Afinal, produzimos conteúdos o tempo
inteiro não é? Dentro e fora da internet (principalmente). Eu sou jornalista,
escritora, estudante de psicanálise, artesã, tenho um blog há dez anos e isso
vai muito além de produzir conteúdo para internet, apenas. A internet é massa
em muitos aspectos. Tem gente bacana compartilhando conhecimentos, saberes,
tentando realmente oferecer algo consistente, disposta a trocas, ao invés de
simplesmente usar a plataforma como um pódio de exibicionismo e de futilidades.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Mas faz sucesso nela uma casta de não profissionais. Tipo, a
pessoa faz um curso que não gosta, que não tem talento, como arquitetura ou zootecnia
e vira blogueiro de moda, por exemplo. Passa o tempo todo comendo batata e ovo,
contrata um personal, faz sempre as mesmas poses nas fotos: com um bico;
olhando a paisagem com cara de pastel ou então procurando uma moeda no chão e
jura de pé junto que aprova aquela roupa. Mas só a está vestindo porque alguém
pagou para ela vestir. Às vezes uma foto chega a custar R$ 2 mil reais) e acaba
por contribuir para tirar o trabalho de modelos, editores de moda e até mesmo
estilistas. É o tipo de trabalho que me dá uma grande vergonha alheia. Porque eu
sei que tem gente que rala pra caramba e não chega a ganhar isso em um mês
inteiro de trabalho. E vergonha também de quem se deixa influenciar por esses
tipos. Quer imitar alguém no vestir? Imita as artistas da novela. Ao menos lá
elas estão trabalhando de verdade né? <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>E sabe por que essas pessoas fazem sucesso? Porque elas
vendem ilusões. Elas vendem a ideia de que são felizes, perfeitas, que acordam
maquiadas e lindas. E não é bem assim, né? Para ninguém. Muitas vezes, elas só
conseguem levantar da cama, se tomarem uma boa dose de uísque.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O que quero dizer é que eu acho uma pena, uma grande pena
ver gente tão equivocadamente fissurada em "produzir conteúdo",
sonhando em fazer parte de "startups", achando que um dia será o novo
Mark Elliot Zuckerberg, o criador do facebook. Raros são aqueles que chegam
onde ele chegou. Muitas vezes, passando como um trator por cima de outras
ideias. E, como são raros, vivemos num limbo entre pessoas que têm ideias,
sonham em ficar ricas em um mês, não vão e, portanto, ficam muito frustradas,
se sentindo fracassadas.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt;"><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>E eu pergunto: e a construção de uma carreira? Leva quanto tempo? As
startups criaram uma falsa expectativa nas pessoas. Especialmente nos jovens
que têm lido cada vez menos, que absorvem um milhão de informações, mas não
conseguem filtrar 5% do que leram ou assistiram. Menos ilusão e preguiça. Mais
conteúdo e produção, por favor</b></span></span></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-24898906004057213392017-06-17T09:47:00.000-03:002017-06-17T09:47:43.939-03:00A MULHER QUE QUEBROU TABUS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMpKCN0VHBlYiwGv64K7185usDUog_LnxQwpwKl-DCEK63XrOhswgy2oXdFwVUbetiqI9lUokr0TgJnDM3cf7gKHLtMMmu8VcqMcNQGKnTMY-dcfJLxYUqK4-xHk8TE81_o-AQjkiAZU0/s1600/Wilma_de_Faria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="739" data-original-width="502" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMpKCN0VHBlYiwGv64K7185usDUog_LnxQwpwKl-DCEK63XrOhswgy2oXdFwVUbetiqI9lUokr0TgJnDM3cf7gKHLtMMmu8VcqMcNQGKnTMY-dcfJLxYUqK4-xHk8TE81_o-AQjkiAZU0/s400/Wilma_de_Faria.jpg" width="270" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #cc0000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #cc0000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Primeira prefeita eleita de Natal, primeira governadora do Estado, casada com um oligarca da política local, quando se separou, muitos falavam em sua ruína política. Mas não foi. Se casou mais outras duas vezes. Ao contrário da maioria dos políticos, a vida pessoal que fugia das convenções nunca atrapalhou sua vida política. Há quem a veja como mais uma figura política repetidora dos mesmos padrões de poder e corrupção. Julgamentos à parte, dona Wilma de Faria foi uma mulher memorável. Uma pessoa que vistoriava as obras do seu Governo com cuidado e atenção, que tinha uma voz mansa e um, indubitavelmente, uma mente estratégica em se tratando de política. Fiz essa entrevista com ela em janeiro de 2014, e foi publicada na edição de fevereiro daquele ano na Revista BZZ, da jornalista Eliana Lima. Republico-a agora no meu espaço pessoal, para relembrar daquela conversa franca com ela. Saí admirando ainda mais a "guerreira", sepultada ontem em Natal.</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #cc0000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #cc0000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Quando ainda
estava no ensino médio, ela abriu mão do sonho de dedicar-se aos estudos,
tornar-se médica e só se casar depois dos 25 anos. Casou-se aos 17, virgem, com
um homem que tinha o dobro de sua idade. Aos 18 anos, nasceu o primeiro filho,
vieram mais três, “um atrás do outro”, como relembra. Só sentou nos bancos da
Faculdade, para fazer licenciatura no curso de Letras, depois que os filhos
nasceram e, mesmo assim, enfrentando uma certa resistência do então marido. Até
aí, a ex-governadora do Estado, atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria,
68, não foge à regra dos casamentos convencionais e do que é exigido como papel
feminino para boa parte das mulheres de famílias tradicionais do Estado,
oriundas do interior. Ela é mossoroense e foi criada no Seridó. Entretanto,
seguir as regras convencionais, dedicar-se somente à vida doméstica e aos
filhos ou manter um casamento só pela aparência estava longe de encerrar a
trajetória de sua vida. Pode-se considerar que<span style="color: red;"> </span>Wilma
de Faria é uma mulher que, com voz mansa, porém firme, tomou as rédeas de suas
decisões, sejam elas no campo público ou privado.Tornando-se uma das maiores
lideranças políticas do sexo feminino no Rio Grande do Norte, cujas escolhas
tomadas no âmbito doméstico e pessoal nunca afetaram sua vida pública. Alguém
duvida? Das dez eleições que até hoje disputou, perdeu três e ganhou sete. Foi
a primeira mulher eleita deputada federal, a primeira a governar a capital
potiguar, em seguida elegeu seu sucessor (Aldo Tinôco); e também foi a primeira
mulher a governar o Estado, conseguindo, inclusive, ser reeleita; em 2010
perdeu a disputa por uma cadeira no Senado Federal e, quando todos pensavam que
ela pudesse estar aniquilada politicamente, se reinventou, e foi eleita a
vice-prefeita de Natal, sem perder de vista e sem deixar de ser uma das
principais citadas nas rodas e pesquisas como uma possível candidata nas
próximas eleições, inclusive para chapa majoritária.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Depois de 27
anos casada com o primeiro marido Lavoisier Maia - um médico e tradicional
político do Estado, que foi governador, senador, deputado federal e se despediu
da política em 2011, quando acabou seu mandato de deputado estadual - ela
decidiu dar um ponto final na união que, segundo ela, já não tinha mais sinais
da paixão inicial. “Quando nos casamos, eu já o conhecia por volta de uns dois
anos antes, porque ele frequentava a casa de uma amiga em comum. Aí me
apaixonei e de repente parei de estudar para casar. Foi uma coisa de
adolescente. Houve assim, uma interrupção do sonho (de estudar Medicina) do
ponto de vista profissional”, revela, deixando claro, em vários momentos da
entrevista que não estava acostumada a falar de sua vida pessoal e, portanto,
não escondia um certo constrangimento e cuidado com terceiros.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Em 1976 Wilma
de Faria passou no primeiro concurso de professor colaborador da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, para lecionar Didática no Departamento de
Educação. A veia política foi se revelando primeiro nos bastidores. “Eu sempre
fui da militância política, participava dos eventos, das discussões, ajudava
nos planos, mas nunca pensei que poderia estar à frente. Eu estava no jogo para
apoiar as pessoas que estavam ao meu redor”. Em 1985, cinco anos antes de se
separar de Lavoisier, quando era secretária do Trabalho e Assistência Social,
no governo de José Agripino, seu nome apareceu com alguns pontos na pesquisa
com indicativos de nomes para a disputa da Prefeitura de Natal. Cedeu à
pressão, já que havia uma vacância, porque o preferido na época de José
Agripino, o recém falecido João Faustino não queria disputar aquelas eleições.
“Eu aceitei”. Mas impôs uma condição: “Eu não queria somente subir em
palanques, queria fazer uma campanha eleitoral diferente. Então eu disse, vou
caminhar nas ruas, entrar na casa das pessoas e conversar com o povo para poder
fazer um plano de governo que atenda às necessidades do população”, relembra. E
nascia ali, segundo ela, uma nova forma de fazer política. “Revolucionamos a
ponto de nossos adversários terem de fazer o mesmo que fazíamos”. Não ganhou as
eleições. Entretanto, no ano seguinte, sua estratégia do <i>tête-à-tête</i> com o povo deu sinais de sucesso. Foi eleita a primeira
deputada federal do Rio Grande do Norte com uma votação histórica, sendo a mais
votada em números absolutos em todo o Nordeste e, em números proporcionais, a
mais votada de todo o Brasil. Perdendo somente para Lula, candidato ao mesmo
cargo em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Nesse ínterim,
a vida com o primeiro marido já não estava mais viável. Quando, em 1990, se
separou, achou por bem retirar do seu nome o tradicional “Maia” de Lavoisier e
passar a ser chamada pelo nome de solteira, “Faria”. “As pessoas diziam que eu
iria me acabar tirando aquele nome. Mas eu achava que como eu tinha começado a
minha vida pública com uma ligação de uma família que estava no poder, eu tinha
que tirar o Maia, eu queria continuar o caminho político com meu próprio nome”.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Wilma de Faria
reconhece que entrar para a vida política sendo mulher, confere algumas vezes,
pechas nada agradáveis. Pessoas, que ela diz que sempre eram ligadas a grupos
políticos nunca do povo, a taxavam disso ou daquilo, usando expressões chulas
ou preconceituosas, no entanto, sempre por trás e nunca a encarando de frente.
Enfrentou também discriminação de gênero. “Vivi várias etapas. No início quando
só tinham duas, três, dez mulheres prefeitas entre cinco mil prefeitos, nós
éramos sempre homenageadas. E isso também é uma forma de discriminação. Depois,
passamos a ser questionadas em termos de capacidade. E é aí que a gente tem de
manter a firmeza. Não se pode ser líder se não tiver ideias e não souber como
defendê-las”.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Não existe
fórmula perfeita ou jeito ideal de ser mulher na política, mas Wilma transita
entre momentos de precisar ter pulso de ferro e de bater na mesa para defender
suas ideias, a recuar e reconhecer, com humildade, quando deve ouvir. “Por
exemplo: na minha vida política, se chegar uma pessoa e me pedir algo que eu
não tenho condições de oferecer a ela, as pessoas ficam exasperadas, às vezes
um ou outro assessor fica sem saber o que fazer. Eu trato diferente, eu aceito o
confronto. Acalmo minha voz, faço com que ela acalme também a voz, para
acharmos uma saída, sem desespero. Então às vezes eu sou um pouco psicóloga
também”, e diz isso sorrindo. Transparente nos sentimentos e emoções, Wilma
fica na dúvida se essa visível percepção de estar ou não bem é uma boa
característica. “Eu sou muito transparente. Não sei fingir muito. Às vezes a
gente tenta ser alegre, tem que demonstrar alegria. Os homens são mais
blindados, as mulheres têm muito o que aprender. Mas é muito bom a gente ser
quem a gente é. É ruim ficar triste, mas se não houvesse tristeza, não poderia
saber como é bom buscar a alegria e a felicidade”, filosofa.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Ela só teve
governanta na época em que era governadora do Estado, e porque era obrigatório.
Portanto, ela mesma quem se encarrega de administrar a casa, de saber se as
contas estão sendo pagas e que tipo de supermercado será feito. Com a ajuda do
marido, é claro. “Meu marido ajuda, define a comida, as coisas da cozinha. Ele
já se encaixou nessa parte aí sim (de ser um ‘novo homem’). Mas o machismo
ainda impera em todos os homens. O mundo ainda é muito machista”, deixa
escapar. <o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Não tem muito
espaço para isso na sua vida atual, mas se tiver que ir para a cozinha, além de
alguns pratos mais elaborados, ela diz que sabe fazer um bom bife acebolado com
arroz. “Minha vida pública me impede de ser uma pessoa normal, de fazer uma
compra na rua, que observa bem antes de comprar e pode até desistir da compra,
como fazem todos os homens e mulheres. Eu não consigo fazer. Porque as pessoas
me veem de uma forma diferente”. Mesmo com algumas dificuldades por ter se
tornado uma espécie de “celebridade” política, Wilma diz que não abre mão de
sair de casa, caminhar na rua e de ir fazer compras. Mas a liberdade já está
comprometida faz tempo. Uma simples entrada numa parte mais popular de um
shopping pode virar um tumulto. É tanto que às vezes recorre ao marido, e às
filhas, para fazer as compras e os presentes. <o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Considera-se
vaidosa, mas sem exageros. Usa cremes receitados pela dermatologista. Sempre
que tem tempo faz ginástica e quando não tem tempo, ao menos faz caminhadas.
“Não costumo repousar durante o dia. Trabalho direto, então, não durmo menos de
sete horas. No mínimo, quando a agenda está cheia, seis horas por dia”, diz. A
assessora acrescenta que ela gosta de estar sempre bem arrumada, mas não dá
muita bola para marcas. “Não ligo para marcas A, B ou C. Às vezes você encontra
roupas em lojas de departamento e que caem muito bem, então compro”.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Na vida
particular, Wilma está no terceiro casamento. Na verdade, ela não chegou a
casar com o advogado José<span style="color: red;"> </span>Maurício, eles estão
há nove anos juntos, numa “união estável”. Pouco mais do que o tempo que passou
com o segundo marido, o advogado e procurador aposentado do Estado, Hérbat<span style="color: red;"> </span>Spencer, de quem Wilma fala muito pouco, mas deixa
claro que depois da separação ela procurou preservar o apreço e respeito. Sobre
a experiência de viver a dois e de já estar encarando a terceira tentativa, ao
ser indagada se vale à pena acreditar no amor ela responde: “Eu acho que vale
para todos, homens ou mulheres. E acho que também na hora que não dá mais, tem
que finalizar. Melhor do que ter um desgaste até na amizade. Porque a amizade
tem de estar junto do amor. Se você deixa de amar, tem de separar para não
deixar acabar a parte mais importante, que é a amizade. E não é só pelos
filhos, tem de ser também por aquele tempo que você passou junto com a pessoa”,
formula e conclui: “Eu cumpri bem (o papel) com meus maridos. Acho que toda
mulher deve ir à luta para buscar a sua independência, seja a financeira, seja
a emocional. Ter coragem de dizer não, sobretudo aos machistas”.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Discreta,<span style="color: red;"> </span>Wilma de Faria não transparece se importar muito
sobre o que pensam de sua vida privada. Principalmente quando se trata da
população, que ela acredita que o povo sente algo tão forte e genuíno por ela,
que vai além das questões pessoais. Quando provocada sobre qual teria sido a
maior quebra de tabu de sua vida, ela relembra de sua trajetória política; das
vezes em que enfrentou adversários que ela costuma chamar de “poderosos”. E a
senhora não é também uma poderosa? E ela responde: “Me considero uma liderança
política. Quando falo dos poderosos, falo do poder econômico, da comunicação, e
também a forma de ver o mundo, achar que é possível manipular. Eu não acho que
é possível manipular todo mundo, você tem que debater e dialogar”, encerrando a
conversa, não sem antes responder a um rápido ping-pong, no qual ela ouvia uma
expressão e falava o que lhe vinha à cabeça:<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um prazer:
passear na praia, beijar um filho ou um neto;<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um
arrependimento: vários... daqui a pouco eu falo;<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Uma viagem:
tive várias inesquecíveis. Mas no Rio de Janeiro sempre tem recantos agradáveis
e que me marcaram. <o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um sonho: de
ver o Rio Grande do Norte crescer, se desenvolver. Como política, sofro muito de
ver na capital ainda tantas áreas pobres, sobretudo nas margens do Potengi.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um pecado:
(pensa muito). O pecado da gula é muito ruim porque prejudica a mente e o
corpo. Os sete pecados capitais.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um vinho –
tenho tomado vinhos chilenos<o:p></o:p></b></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Um
arrependimento (voltando ao tema): não vi praticamente meus netos crescerem. Me
arrependo de não ter podido cuidar, no sentido de mimar os netos, como avó.</b></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="color: #0b5394; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Observação: Nessa publicação, mantive o texto original, sem a edição da Revista BZZ.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="color: #0b5394; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-72214873047877846312017-05-25T09:35:00.002-03:002017-05-25T09:35:28.445-03:00Ele é linda, ou seria ela é lindo?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjJzCmLdmcvj92DoQVdG68Xsv1DW3wBkn0er6OKSfyyWIm8d959EGmMbiQE3zqaLDrMvk6dLmjUTbJA3a4FqwLnTKAOZLRJ-LwbjJivqHC4Uqx2XZAD0q1xn2XuP4nps4jd0C0e380uRU/s1600/laerte-se.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjJzCmLdmcvj92DoQVdG68Xsv1DW3wBkn0er6OKSfyyWIm8d959EGmMbiQE3zqaLDrMvk6dLmjUTbJA3a4FqwLnTKAOZLRJ-LwbjJivqHC4Uqx2XZAD0q1xn2XuP4nps4jd0C0e380uRU/s640/laerte-se.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estreou na Netflix há poucos dias o documentário “Laerte-se”, que tem como personagem principal a cartunista Laerte Coutinho.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela há quase dez anos deu um esticada na corda do significado de liberdade individual e questões de gênero, após decidir pelo crossdressing (vestir-se como mulher). Ganhando, de quebra, ainda mais admiração e respeito por parte de alguns e, óbvio que também muito bullying e demonstrações de intolerância, incompreensão e ódio.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Afinal, não é todo mundo que entende o que significa para um profissional já bastante respeitado no mercado, com cerca de 40 anos de carreira como cartunista, criador de personagens como Piratas do Tietê, Palhaços Mudos e Fagundes, pai de três filhos, algumas ex-mulheres, resolve, mudar seu guardarroupa, trocando as calças masculinas por saias e as cuecas por calcinhas. Claro que esse tipo de mudança, de escolha e transformação não acontece de repente. O personagem Hugo, criado por ele, que o diga: foi trocando as vestimentas e assumindo sua transgeneridade nas tirinhas, uns passos antes que seu criador na vida real.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu sempre pensei em Laerte e na sua doçura de enfiar uma britadeira simbólica nos padrões convencionais como um sujeito político. Político no sentido mais puro: aquele fenômeno que nos conduz a uma posição, a uma escolha e à defesa disso.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Laerte é gay, bissexual, transgênero? Namora uma lésbica, quer colocar peitos de silicone mas jamais pensou em cortar o pinto fora. Laerte é uma mulher? Eu não sei se ela está muito preocupada em preencher todas as lacunas para esses questionamentos.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela é uma provocação ambulante, mesmo que não pretenda fazer isso o tempo inteiro. Aos 23 minutos do documentário de uma hora e quarenta, que durou três anos para ser feito, eu e meu companheiro damos uma pausa para falar sobre nossos limites e nossas necessidades silenciosas de ultrapassar esses limites. Eu confesso que gostaria de tatuar todo o rosto e raspar o cabelo. E que me falta coragem, óbvio. E ele, que gostaria de usar saia e experimentar essa liberdade do “ventinho” no meio das pernas. Laerte é também essa representação de nossas pausas.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Laerte-se é dirigido por outras duas mulheres, Ligya Barbosa da Silva e Eliane Brum. Essa última aparece na frente da tela, fazendo o modelo de entrevista, dos mais encantadores que eu conheço: que é quando mal se ouve a voz do entrevistador e pouco se vê da sua imagem. Afinal, o verbo é fazer notícia e não ser notícia. Levou três anos para ser produzido. E eu penso que é um filme que traz um pouco da intimidade da Laerte mulher que não está preocupada em ser mulher, e sim em trabalhar-se no processo de sentir-se mulher.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E isso nós também fazemos o tempo inteiro. Em cima dos nossos muros ou por trás deles, estamos num constante processo de escolhas, aprendizados e sentimentos com relação a quem somos, o que queremos e aonde chegaremos com isso.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não bastava ser genial nos cartuns, um cronista do seu tempo através dos desenhos, uma referência nacional nessa área. Ele precisava ir-se além. E é por isso que ele é linda ou ela é lindo. Essa terminologia, confesso, que me confunde um pouco ainda e faz parte sim das minhas limitações. Porque ela nos dá a marreta para que possamos quebrar nossos muros. Se será apenas uma pequena fresta ou a queda do muro de Berlim, isso aí já é outra história.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
fiz modificações no título aqui no bicho, mas já havia publicado no Substantivo Plural com outro título que você pode ver <a href="http://www.substantivoplural.com.br/ele-e-linda-quando-o-genero-e-o-que-menos-importa/">aqui</a>Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-75515424440583905912017-05-25T09:28:00.001-03:002017-05-25T09:28:18.176-03:00"Você não presta", clipe da Mallu Magalhães<br />
Dá uma olhadinha nesse clipe<br />
<br />
<br />
https://www.youtube.com/watch?v=hrh6zd5c0OY<br />
<br />
agora, beleza... você assistiu e, sinceramente, você acha que ele sexualiza demais os negros ou têm uma letra que os inferioriza? eu, particularmente, achei o clipe bonito e a cantora não tem cancha para ser agressiva ou ofensiva contra qualquer que seja o movimento, sobretudo o racial. mas alguns movimentos se sentiram ofendidos e tal. e a moça, respeitosa e dona de um domínio elegante e profissional, imediatamente fez questão de se desculpar. veja aí o que ela escreveu:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">Fico muito triste em saber que o clipe da música “Você não presta” possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido. Gostaria de pedir desculpas a essas pessoas. Meu trabalho e minha mensagem têm sempre finalidade e ideais construtivos, nunca, de maneira nenhuma, destrutivos ou agressivos.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">A arte é um território muito aberto e passível de diferentes interpretações e, por mais que tentemos expressar com precisão uma ideia, acontece de alguns significados, às vezes, fugirem do nosso controle.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">Li cada uma das críticas, dos posts e comentários, e o debate me fez refletir muito sobre o tema. Entendo as interpretações que derivaram do clipe, mas gostaria de deixar claro minhas reais intenções.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">A ideia era ter um clipe com excelentes dançarinos que despertassem nas pessoas a vontade de dançar, de se expressar. Foram convidados pela produtora e pelo diretor os bailarinos Bruno Cadinha, Aires d´Alva, Filipa Amaro, Xenos Palma, Stella Carvalho e Manuela Cabitango. Com a última, inclusive, tive a alegria de fazer aulas para me preparar para o vídeo.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">Espero que, após este esclarecimento, seja aliviado deste espaço de conversa qualquer sentimento de ofensa ou injustiça, ficando os fundamentos nos quais tanto acredito: a dança, a arte e o convite à música.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #741b47;">MALLU"</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-39632686415505395842017-05-16T09:00:00.000-03:002017-05-16T09:00:27.609-03:00Direito de ser<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCG5i4f4fq27yXj-f8SwQ24Yxnlo7AX3TEJWRZkBe1SDQaVx9BNfx2BN_iMlhrT9KRR5sLaqN5hQoBw43gusQ9U_JhzuewsjXZRKzSXJtT-KG1OZnf6G3iG3fATGbuWeWOW2RRRK8efSA/s1600/div%25C3%25A3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCG5i4f4fq27yXj-f8SwQ24Yxnlo7AX3TEJWRZkBe1SDQaVx9BNfx2BN_iMlhrT9KRR5sLaqN5hQoBw43gusQ9U_JhzuewsjXZRKzSXJtT-KG1OZnf6G3iG3fATGbuWeWOW2RRRK8efSA/s640/div%25C3%25A3.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minha avó aboiava dentro de casa. Isso mesmo. Era uma
espécie de evocação de suas memórias. Uma forma de estar próxima do seu pai,
irmãos e agregados que aboiavam para conduzir o gado pra dentro ou fora do
curral, nos tempos em que ele vivia lá pelos lados da Fazenda Surrão, no
semiárido da Paraíba. Minha avó se foi há 21 anos. E eu, que não tive a sorte
de enxergar com seus olhos a infância no mato, guardo nas minhas memórias
aquela voz afinada e um vibrato constante de um canto preenchido pela verdade
infantil das vogais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há uma fase em que a direção dos gestos e pensamentos se
aceleram em direção ao tempo ainda não vivido. Alguns dão o nome de ansiedade.
Eu dou o nome de juventude. O mundo, para essas pessoas, e o que há no mundo
está a um toque das mãos e a míseros três passos. No entanto, a cada real
movimento dado, se instala um enorme vazio daquilo ainda não apreendido,
vivido, mergulhado. É uma fase boa, pelas não ressacas, admito. De resto,
prefiro essa sensação de que estou aqui e agora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E se a poeira dos meus sapatos um dia virão do deserto do
Saara não tem a menor influência sobre mim ou sobre minha decisão de tomar chá
de hortelã perto da hora de dormir. Gosto desse horário porque é quando o chá
se torna mais importante que a fantasia do que está por vir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assisti há pouco um vídeo da cantora Marina em que ela fala
da passagem do tempo em sua vida e das coisas malucas que estão ocorrendo no
mundo inteiro. Do surgimento de gente reacionária e da esperança de que para cada
uma dessas aberrações, surge também alguém, ou vários movimentos LGBT, de
mulheres, transgêneros e de negros. E que são extremamente importantes, porque
abrem espaço para que as pessoas não só reclamem, mas reivindiquem, se coloquem
no mundo. Ela acredita que para cada surgimento de tipos como bolsonaros e
malafaias, “compensa” de um outro lado, porque surgem pessoas desses
movimentos. Quase como uma resposta, uma reação. Ela não cita, mas eu o faço:
pessoas como Laerte, Liniker, Gregório Duvivier e Lola Aronovich me fazem compreender
o recado da Marina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas, o que ela fala sobre a passagem do tempo é que é bacana
de ouvir e eu replico: “Quando eu fiz 50 foi libertador; quando vi que eu já
tinha me construído e já tinha direito de ser tudo o que eu quisesse, sem dar tanta
satisfação. Mas, sem arrogância. Aos 60 eu sinto que comecei a envelhecer, mas
eu tô gostando. Jamais voltaria atrás no tempo. Eu tinha que ser exemplo pra
tudo, eu não tenho que fazer isso. Acho que o importante é ter curiosidade e
gostar da vida”. E eu percebi a interseção entre duas mulheres tão diferentes e distantes. A cantora famosa e a avó aboiadora. Eis aí um recado que me representa e que eu divido com você,
meu leitor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-24855235493572236452017-05-05T18:41:00.000-03:002017-05-05T18:41:10.386-03:00Do alto do penhasco dá para sentir o coração batendo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjErpngF1L3WSDXFYtTAvmsvSaM1VzjQD4noIS1tGfkCGruJhMk9Tpx-D3-7Dt50mz5MbnsPz3lvzongWGVuUVxWOkx_spxViKagSfrlItmHXGIEvYzL5JkjfyaPNEBrsz-pj0VdSI3yJg/s1600/se-enlouquecer-nc3a3o-se-apaixone2-464x309.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjErpngF1L3WSDXFYtTAvmsvSaM1VzjQD4noIS1tGfkCGruJhMk9Tpx-D3-7Dt50mz5MbnsPz3lvzongWGVuUVxWOkx_spxViKagSfrlItmHXGIEvYzL5JkjfyaPNEBrsz-pj0VdSI3yJg/s400/se-enlouquecer-nc3a3o-se-apaixone2-464x309.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
A adolescência é uma fase estranha e difícil. Nos enlutamos do corpo de criança, ganhamos um turbilhão de dúvidas e sensações físicas que não sabemos muito bem como lidar e a vida se torna uma via de mão dupla, entre a ideia de invencibilidade e uma imensa incapacidade de suportá-la. Somos capazes de tomar um porre de vinho de garrafão numa noite e fazer uma prova no dia seguinte. E, no entanto, os ossos podem se desintegrar se alguém critica nosso jeito de se vestir. Há, inclusive, quem leve esse sentido de vida para o resto da existência. Ficando num limbo entre a fase imberbe e o peso da maturidade.<br />
<br />
Os conflitos da vida de um adolescente são o mote para o filme<i> It’s kind of a funny story </i>(2011), dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck. A tradução literal em português seria “Tipo uma história engraçada”. Mas, infelizmente, os gênios do marketing resolveram intitular o filme no Brasil de “Se enlouquecer não se apaixone”. Talvez fazendo um trocadilho inoportuno com a comédia chata “Se beber não case”. Já que em ambas as películas o talentoso - e estranho - ator Zach Galifianakis, faz parte do elenco. Nesse, ele interpreta o amigo Bobby, que coleciona idas e vindas à ala psiquiátrica de um hospital, devido a uma estranha obsessão: querer morrer.<br />
<br />
O filme trata do suicídio de uma maneira absolutamente leve e longe dos tabus que costumam acorrentar esse tema. O jovem Craig (Keir Gilchrist) tem pensado em se matar de maneira constante. Acha que está apaixonado pela namorada do melhor amigo e parece não suportar as pressões dos 16 anos e das decisões que seria obrigado a tomar nessa idade, como a escolha da profissão após o ensino médio.<br />
<br />
O roteiro permite uma fluidez sem muito "mimimi" e clichês. Numa das cenas, o rapaz descreve como os pensamentos o estão sufocando, a ponto de achar que não vai conseguir segurar a onda e vê como única opção se jogar da ponte. O texto é muito respeitoso com os conflitos internos, aos quais todos os seres humanos estão propensos a passar.<br />
<br />
A mesma transparência com que ele lida com o problema diante da maravilhosa psiquiatra, interpretada por Viola Davis, o faz ir por conta própria a uma clínica para pedir ajuda.<br />
<br />
Lá, ele encontra diversos tipos de pacientes psiquiátricos, inclusive a adolescente Noelle (Emma Roberts) com quem vai descobrir que viver pode até não ser um conto de fadas ou um comercial perfeito da terra do Tio Sam, mas pode valer a pena se for uma aventura a dois.<br />
<br />
Os personagens da ala psiquiátrica são caracterizados com os mais diversos problemas de saúde mental. Mas o bacana é que nenhum deles caricatura a doença mental, nem coloca no pódio a “loucura” apoteótica ou gente descabelada e babando.<br />
<br />
O que é muito pertinente. Porque como diz um amigo meu, existem muitos doidinhos mansos por aí. Muito mais equilibrados do que os que se acreditam “normais” e estão patinando num mar de narcisismo, a destilar neuroses mal resolvidas em cima dos outros, ou então diluindo suas frustrações e angústias em doses constantes de álcool e outras substâncias, sem falar na dependência de pílulas para dormir, para levantar, para pensar, para ficar feliz, para levantar... a moral.<br />
<br />
Li algumas críticas colocando como ponto alto a interpretação do ator adolescente, quando ele canta a canção <i>Under Pressure</i>, do David Bowie. É legal mesmo. Mas, eu não entendo muito de música então vou ficar por aqui nessa cena.<br />
<br />
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=F8qFALUcWnE"> https://www.youtube.com/watch?v=F8qFALUcWnE</a><br />
<br />
Mas, na verdade, para mim, o que me impressionou nessa história – que não é nada engraçada, mas também não é melodramática – é que às vezes podemos nos colocar diante do penhasco, com impulsos de “voar” para “longe”. E, ao invés de nos seduzirmos com infinito da paisagem – deveras inalcançável e impossível – olharmos para dentro. Nos encararmos com coragem e respeito. Permitindo que a fantasia flerte com a realidade, sem que uma ou outra precise ganhar a batalha.<br />
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-82327392295569764192017-04-23T18:33:00.001-03:002017-04-23T18:33:22.133-03:00Ditadura política<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4Ef8apQHRG1jGJOZEdsGKWixwmyNuFV7FSfDdFu59aVsQ3D6E4OJjYW3hgRNj3o4Wwdo53dWkZLqNg7GPqKcxq5uBknBr78Amn9vvKHew8bfxYmXPklgf0ZVaXu6PJkhsaefhaAQxE8/s1600/melancolia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo4Ef8apQHRG1jGJOZEdsGKWixwmyNuFV7FSfDdFu59aVsQ3D6E4OJjYW3hgRNj3o4Wwdo53dWkZLqNg7GPqKcxq5uBknBr78Amn9vvKHew8bfxYmXPklgf0ZVaXu6PJkhsaefhaAQxE8/s320/melancolia.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="background-color: white; font-size: 12.8px;">
<div class="MsoNormal" style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Eu estava diante de pessoas bacanas. Dessas que quando a gente sai de perto delas, levamos conosco um cheiro de decência, misturada à gratidão. Eram pessoas legais, de mesa posta e coração generoso. Dos dois tipos de bolo, porque na casa havia dois aniversariantes, ao pão assado e o café, nem forte nem fraco, bolo de rolo, brigadeiro feito com a ajuda da caçula de nove anos, tudo tinha sabor de acolhimento. No entanto, em alguns momentos, nos entreolhávamos quase que perplexos, incrédulos. O senhor de grandes olhos azuis, que só usa branco e completava 74 anos, quebrou o silêncio e traduziu o que nos afligia, falando do porvir com certa melancolia. "O futuro do Brasil é sombrio", disse.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Em outros tempos talvez eu procurasse imediatamente por uma saída mental que refutasse aquela sentença. Afinal, ser jovem é sobretudo achar que o futuro é longe e demora a chegar. Só que depois dos 40, o futuro está sempre ao alcance do toque. E ficamos mais sensíveis aos espinhos que por ventura nos espetam os dedos.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Há qualquer coisa de comovente nos dias. Quando as trevas do passado voltam a roubar a luz que nos apontava para um mundo melhor. Pode até ser que não fosse o mundo todo. Mas o mundo de dona Maria e seu João, com feijão e mistura à mesa, todos os dias. E o neto entrando na faculdade, com sapatos novos e uma cabeça aberta para o futuro fértil das descobertas. E não como agora, sob a ameaça de sentar no deserto das mordaças daqueles sacripantas, ladrões do direito de pensar e questionar - como se já não fosse o suficiente nos roubar em recursos e em privilégios políticos. Essa gente tosca e protocolar, donas das emendas que drenam até mesmo os suores do povo brasileiro.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Há uma alegria triste nos olhos da menina que faz biquinho e tenta parecer a Gisele, não percebem? Há algo de triste no tilintar das caixas registradoras, quando o homem descobre que deixou mais da metade de sua vida sentado diante dela, enquanto ela permaneceu absolutamente indiferente ao toque dos seus dedos.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Há qualquer coisa de muito indecente nesse barulho egoico das câmeras digitais, dos instantes “eternizados” por quinze segundos, que ganham mais importância nos cliques do que na vida real. Não se pode negar, há alguma coisa de muito comovente na ignorância que nos tolhe a imaginação e a poesia.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>E eu também gostaria muito de discordar quando aquele mesmo senhor falou que vivemos tempos de ingratidão. Eu acrescentaria falta de educação também. Os novos vizinhos não nos cumprimentam no jardim. Os adolescentes não reconhecem a força do trabalho dos pais. E os pais. Bom esses, eu espero que um dia cheguem aos 70 anos e que olhem para o futuro com menos melancolia.</b></span></div>
</div>
<div style="background-color: white; font-size: 12.8px; text-align: justify;">
<span style="color: #a64d79; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 12.8px; text-align: justify;">
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-75330559309032134892017-04-17T08:00:00.000-03:002017-04-17T08:00:10.715-03:00Tempo de sofrer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-HpOECVXCVcxomgSC8niQrmM70VYRyvzlOTulQ5BM8FgxPUHVbV-GVLfLrSTlwE7M4oK407YiIQuccEWa-YuWAsbD1PZReYlGc9KdEGp2esvseV4NgDpP23jPM2VjMGjJhs62TNep2is/s1600/Brugel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="466" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-HpOECVXCVcxomgSC8niQrmM70VYRyvzlOTulQ5BM8FgxPUHVbV-GVLfLrSTlwE7M4oK407YiIQuccEWa-YuWAsbD1PZReYlGc9KdEGp2esvseV4NgDpP23jPM2VjMGjJhs62TNep2is/s640/Brugel.jpg" width="640" /></a></div>
<b><span style="font-size: x-small;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: x-small;">Ilustração de quadro de Brugel</span></b></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Fui à Ribeira dia desses. Em uma das ruas perpendiculares da Duque de Caxias, havia estacionado um carro do Itep. Dentro dele alguns homens que pareciam capturados, sendo vigiados por policiais. Na verdade, estacionado é eufemismo porque o carro, sob a condição do uso (e abuso) estatal estava parado no meio da rua. Mas não foi isso que mais me chamou a atenção. Um dos detidos estava visivelmente abatido. Como se tivesse levado uma grande surra, ele oscilava para um lado e outro, prestes a desabar. A cena chamou roubou a atenção de muitos outros, causando um certo frenesi.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>"É pra ser assim mesmo! Tem que dar com força. Quando esses caras assaltam uma pessoa, eles não têm pena de ninguém. Tem mais é que botar pra *@#$%$#", esbravejava um ambulante.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Eu não acho que mais violência dessangre a violência nossa de todos os dias. Eu não acredito que tratar com a mesma moeda o agressor vai torná-lo uma pessoa melhor ou um pacifista. Essa ideia de punição, de olho por olho, dente por dente, legitima uma opressão que só tem crescido no nosso país nas últimas décadas. É um tipo de fascismo substantivo que incendeia os ânimos de alguns homens de bem. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>A diferença é que agora, em evidente crise, o estado de exceção, a violência periférica, a falta de estrutura e de direitos não atingem somente as classes menos favorecidas - historicamente o alvo dessa violência. O estado de exceção chegou na classe média. Aumentaram os crimes, os assassinatos em padarias e farmácias, execuções nas esquinas de importantes avenidas da cidade em bairros nobres. Somos todos alvos, ou pelo menos 97,3% de nós. Porque sim, existe uma pequena casta blindada, apenasmente observadora e donatária de tantos privilégios que são capazes de ficar mais ricas e "prósperas" nessa crise que tem drenado até mesmo nossas esperanças.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #b45f06; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Aliás, os últimos dias não têm sido fáceis. Vivemos num tempo de sofrer constante no quesito crueldade política, social, econômica, conjuntural, midiática e patriarcal. Estamos sempre diante de aberrações. O deputado energúmeno que eu me recuso a falar o nome, disse em um discurso no Rio que teve uma filha porque “fraquejou” na hora do sexo; um sujeito no BBB que só foi expulso após alavancar por meses a audiências com sua atitude abusiva contra a namorada; o homem do aviãozinho de dinheiro das noites de domingo achacando e humilhando a funcionária Sheherazade (que costuma achacar e humilhar em seu telejornal quem pensa diferente dela); estudantes de medicina fazendo fotos com as calças arriadas e simulando vaginas com as mãos. Enfim, frente a esse estado de coisas, resta-nos ficar mais atentos a o que dizemos, pensamos e fazemos. Sermos também mais compreensivos e solidários uns com os outros. Talvez um mundo mais justo ainda possa surgir.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-82453898116601669802017-04-06T09:00:00.000-03:002017-04-06T09:00:04.022-03:00Ai que preguiça que eu tenho dessa tal felicidade ...https://www.youtube.com/watch?v=R0gAO-YM5qA&feature=youtu.be<br />
<br />
A felicidade é ou não é uma quimera?Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-20114619755169586572017-04-05T22:23:00.001-03:002017-04-05T22:23:16.716-03:00Um desenho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizMXMtc3_7n8rmP9Qi8ys-8gexTf51-dOqA1nfy4BtJlwc3PNORcfFoOGPSqeo5Yr_QesWvq0cv9OYWCYYb0FWZVnoL0dvWx0WOcai6j6VMCQwAJ-_QZXhCHplhUYyVOQW23MPCfPMc38/s1600/perfil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizMXMtc3_7n8rmP9Qi8ys-8gexTf51-dOqA1nfy4BtJlwc3PNORcfFoOGPSqeo5Yr_QesWvq0cv9OYWCYYb0FWZVnoL0dvWx0WOcai6j6VMCQwAJ-_QZXhCHplhUYyVOQW23MPCfPMc38/s640/perfil.jpg" width="478" /></a></div>
<br />Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-7968396921520434092017-04-05T08:30:00.000-03:002017-04-05T08:30:19.168-03:00 Das escolhas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZRcKtX0R9o2jby1WNxCHvTZidysdl6DU1QJZ2b489HRUn1n1ph2I2TRjtFGkBlvSgu94PfeO9JtZiCahUurkoGfLb_c45EY_Y0VAveBwJvLAqK1rxbLa5Vp65BaMflNkaPOaqStYSssE/s1600/ser+gente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZRcKtX0R9o2jby1WNxCHvTZidysdl6DU1QJZ2b489HRUn1n1ph2I2TRjtFGkBlvSgu94PfeO9JtZiCahUurkoGfLb_c45EY_Y0VAveBwJvLAqK1rxbLa5Vp65BaMflNkaPOaqStYSssE/s400/ser+gente.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desde que nos percebemos fazendo parte de uma engrenagem na
qual somos uma peça única, não sabemos ao certo se escolhemos nascer. Ao menos,
a grande maioria de nós atribui esse fato a um fato anterior entre duas pessoas
as quais, na melhor das hipóteses, se amavam e desejavam esse outro ser (nós).
Muito embora, já depois descobertos humanos e falhos, a gente perceba que nem
sempre é assim que a coisa funciona. <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De lá para cá, somos responsáveis por nossas escolhas. Até
mesmo aquelas que chegam como um vento forte, nos tomando o corpo por completo,
nos forçando a fechar os olhos, estender os braços para a frente e sair
tentando tocar o ar e se agarrar ao próximo segundo que trará a calmaria de
volta. Escolher é principalmente viver. E viver é inevitavelmente saber que nem
sempre conseguimos fazer as escolhas certas. Viver não é certo. Nem certeiro.
Vez em quando a coisa sai de controle.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Difícil não é escolher. Difícil é estar pronto para encarar
os dois movimentos que emolduram a decisão. Antes da escolha, a angústia da
dúvida, a busca por respostas, as conjecturas, os sonhos decifráveis, o
cartomante que atropela o destino, o destino que não se assusta com sua pressa,
e segue seu caminho, incólume. Assim que tomada a decisão, o alívio, o prazer,
o deleite de ser senhor dos seus domínios. Nem que seja por alguns instantes,
talvez apenas dias.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas aí, o trem sai dos trilhos. O que antes era rocha se
esvai em pó, o vento leva pra longe as certezas. E você de novo se angustia se
tomou o rumo certo. E torna a esperar o resultado. Como é preciso esperar para
deixar a vida se instalar. A questão é que ela está em constante manutenção.
Deveríamos ter uma placa pendurada no pescoço: "Vida aberta para
reformas", "Disponível para reparos". <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Somos fadados a viver desafiando as dúvidas, buscando as
respostas, encarando os erros, seguindo com a esperança, acreditando nas
palavras dadas, lamentando as palavras desditas, sussurrando desculpas a si
mesmo, gritando perdões ao mundo, abrindo buracos fundos na compreensão e rasos
na mágoa.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #134f5c; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ser gente é doer no espelho e arder no silêncio. Ser gente é
abrir pontes com o sorriso e alargar as margens para deixar que a embarcação
dos outros ancorem. Ou passem de uma vez por todas. Eu ando com uma ressaca
danada do mundo virtual. Dessa urgência que as pessoas têm em dar opiniões, em
aparecer, em parecer o que não acredita que é. Sei que isso vai passar. Nem que
eu tenha que tomar um antiácido. Aliás, deveria vender na farmácia inibidores
de opiniões e estimulantes para a reflexão.</span></b><o:p></o:p></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4300723845732250678.post-70056317273336911202017-04-03T09:00:00.000-03:002017-04-03T09:00:12.643-03:00 Direitos iguais<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUvuwIS5v7V5tyGF9q6elQvhJIShSuXJl-dh5GSC-IsrxXGRWsJK0Z9ilcoTEFig9TiwxDb80my1g5edvJUGUs6AKYA8OyuMT0COSQXft-xokOS03pCFpwUluXklRunL-c9hcHhhpU9gg/s1600/feminismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUvuwIS5v7V5tyGF9q6elQvhJIShSuXJl-dh5GSC-IsrxXGRWsJK0Z9ilcoTEFig9TiwxDb80my1g5edvJUGUs6AKYA8OyuMT0COSQXft-xokOS03pCFpwUluXklRunL-c9hcHhhpU9gg/s400/feminismo.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Quando eu era menina, brincava de boneca, de casinha, de
cozinhado e costurava vestidinhos com as coleguinhas. Eu lembro que os meninos
colocavam o bilauzinho pra fora e faziam xixi no meio da rua. Puxavam carrinhos
feitos de madeira, brincavam de biloca e não andavam, saíam por aí a correr,
"dirigindo" seus carros imaginários, passando marcha e acelerando. Enquanto
isso, nós mulheres não podíamos sequer sentar de pernas abertas. <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Mesmo com essas restrições, eu me sentia livre. E se usasse
uma tiarinha na cabeça de cor rosa, era como se o universo sorrisse para mim. Eu
ainda não sabia o que viria pela frente.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Certa vez, em uma loja, uma amiga que levava a filha pequena
para escolher uma sandália ficou constrangida tamanha foi a insistência da
vendedora em impor a cor rosa para ela. Mas, a pequena levou a sandália na cor certa.
Aquela que ela escolheu. O rosa ficou lá preso às amarras culturais de uma
sociedade que ainda insiste em envolver as mulheres em embalagens meiguinhas, recatadinhas
e do lar.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Mas, desde minha infância, algumas coisas têm mudado. Apesar
de o mercado calabriar o 8 de março na cor rosa e perfumar com flores mortas
esse dia. Já ouço algumas amigas mais jovens com discursos e atitudes de não
submissão e não se curvando diante das ordens do patriarcado. E vejo também
alguns homens correndo atrás do prejuízo. Buscando dividir tarefas e (quase)
não pedindo um pirulito como prêmio por isso. <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O processo é lento. Ainda há muita violência que mancha de
sangue a cor rosa. A cada agressão, assassinato ou tentativa de contra uma
mulher pelo seu companheiro, namorado, irmão, pai ou amigo, a cada “pegada” na
nossa bunda sem consentimento no meio de um bloco de carnaval ou numa festa, a
cada cantada grosseira e desrespeitosa, a cada ordem dada a uma mulher – num
claro tratamento diferenciado, se comparado ao tratamento dado a um “cueca” do
trabalho - mais se amontoam rosas murchas e podres que são distribuídas no dia
8 de março. </b></span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>texto publicado em março, no Novo Jornal</b></span></div>
Mme. S.http://www.blogger.com/profile/08617396171146720451noreply@blogger.com0